terça-feira, 11 de outubro de 2011

Delfim Neto: um arauto do consenso da barbárie

Houve um tempo no Brasil em que o cargo de ministro da Fazenda era quase tão importante quanto o de presidente da República, dada a autonomia concedida ao seu ocupante, cuja imagem frequentemente se confundia com a da própria política econômica adotada pelo país. Conhecido pela fina ironia, humor ácido e frases de impacto, Antônio Delfim Netto talvez seja um dos maiores expoentes dessa época. Ministro da Fazenda entre 1967 e 1974, ele foi o artífice do polêmico “milagre econômico”, período em que o PIB cresceu a taxas superiores a 10% ao ano. Foi também ministro da Agricultura e do Planejamento, embaixador do Brasil na França e, por cinco mandatos consecutivos, deputado federal por São Paulo. Aos 83 anos, revisitou conceitos, mas manteve intacta a verve que sempre o distinguiu: “Quem não estiver confuso está mal informado”

Conjuntura Econômica: - Qual sua avaliação da Era PT, em particular desses primeiros meses do governo Dilma?
 DELFIM NETO DISSE:
A eleição do Lula foi a consolidação da democracia no Brasil. Na primeira eleição, quando eu disse que votaria nele, causei uma amolação enorme entre a minha gente. Porque era preciso esse teste. O Lula se revelou um grande presidente. O Fernando Henrique também. E até o Collor teve uma contribuição importante, com a questão da abertura do mercado. Não se deve levar em conta o que é dito nos processos eleitorais, essa questão toda de herança maldita etc. O que importa é que o Brasil vem melhorando durante todo esse tempo. E melhorou ainda mais com o Lula, porque ele atendeu a um aspecto importante da Constituição Federal de 1988: o aumento das oportunidades para as pessoas, que está ligado à igualdade do ponto de partida que mencionei antes. Ele incorporou essa gente, fez um trabalho muito bom, aproveitou o que o mundo oferecia e ainda recebeu no final do mandato o presente do pré-sal. Já a Dilma eu vejo como uma tecnocrata que lê os mesmos livros que nós, que estuda os dossiês, que não se deixa enganar por firulas, por esses modelos que dizem que há distorções. Claro que há distorções, mas a maior delas está na cabeça dos que pensam que existe um modelo de desenvolvimento e que eles são portadores desse modelo. Dilma será uma continuidade muito importante para o país.
Fonte - Revista Conjuntura Econômica - FGV - Vol 65 nº 09  SETEMBRO  2011


CONSENSO DA BARBÁRIE


O consenso da barbárie é produto de um conjunto diversificado de variáveis dentre as quais: 
a) Percepção correta da natureza humana - o homem é o lobo do homem.
b) Aprimoramento continuo das técnicas de manipulação do homem pelo homem, com o auxilio da tecnologia
c) Concessão às massas baseadas no binômio romano "pão e circo"
d) Resignação canalizada para os interesses próprios
e) Cinismo e hiipocrisia
Delfim Neto transita com toda a desenvoltura nesta trama demoníaca, descrevendo com bastante propriedade alguns aspectos do capitalismo predatório e chega até a reconhecer o caráter delinquencial do sistema financeiro.
Separar a verdade da mentira neste depoimento não é tarefas das mais fáceis.
Quem sabe o Dr.  Adriano Benayon disponha de algum tempo para isso.
M.Calil


Comentário do Dr. Adriano Benayon

A concentração econômica é a grande raiz do colapso financeiro em curso, que, para Delfim não existe, pois ele diz que os EUA continuam colocando no mercado, sem problema, seus títulos do Tesouro.  Ele omite duas coisas importantes: 1) o mercado e os bancos centrais de outros países só absorvem uma parte desses títulos, e se o fazem é porque os EUA tiveram de diminuir muito o que nele colocam, recorrendo ao FED, que emite mais grana para isso, para comprar parte substancial desses títulos, já tendo acumulado cerca de US$ 3 trilhões (o total de títulos do US Treasury acumulados por estrangeiros – e eles já os compram desde Bretton Woods - , é cerca de US$ 4,5 trilhões; 2) os mercados não são o que pensam que ele é as pessoas que não os conhecem: eles são totalmente manipulados por um pequeno número de grandes bancos que faz de tudo para sustentar o canceroso dólar, mantido em sobrevida também por meio de chantagem militar sobre vários países.
A concentração não é apenas uma política. A política econômica apenas a favorece, mesmo porque uma vez concentrada a economia -  o que é tendência normal da concorrência nos mercados deixada a si mesma e reforçada pela influência dos grupos maiores sobre as política públicas – a tendência é a concentração tornar-se cada vez maior, não só em função da mesma dinâmica que a criou sob regime político e de regulação econômica que não coíbe, para valer, a concentração, mas também de o poder dos grupos concentradores tornar-se cada vez mais dominante na determinação dos fatos políticos, no controle das eleições e dos organismos do Estado. 
É isso que permite fraudes colossais, a começar pela emissão de dólares sem lastro e aceitos no mundo, por força de pressões políticas e militares, além de pela manipulação dos mercados financeiros controlados pela mesma oligarquia. O fato mais notável dos últimos tempos é o colapso financeiro passando dos bancos para os estados ditos soberanos (soberana é a oligarquia) porque a oligarquia fez com que o Estado livrassem os bancos da falência, após os grupos que os controlam terem enriquecido ainda mais através da esbórnia dos derivativos. 
Em suma, o fomento à indústria da guerra e os lucros daí decorrentes para a oligarquia – e além desses os indiretos no petróleo e outras riquezas saqueadas dos conquistados – só é possível porque o poder econômico está concentrado e determina o controle sobre os Estados e as organizações ditas internacionais.
Delfim não diz nada sobre a terrível e gigantesca corrupção nos EUA e na Europa. Só o FED já meteu na mão dos bancos mais de 16 trilhões de dólares.
Quando eu quero me informar sobre os mercados financeiros mundiais, vou a sites dos EUA, da Alemanha e da França, de gente que os conhece e não está a soldo dos mega-banqueiros para enganar a população, que é o que faz quase toda a mídia, a maioria das universidades e sofistas como Delfim Netto. Este é muito inteligente, mas é malandro demais para que se acredite no que ele diz. Não dá para gastar tempo avaliando uma a uma as falácias que ele apresenta com muita habilidade, dizendo até coisas simpáticas para muita gente.
No Brasil ele está sempre por dentro do sistema. É dos tais que passou do regime militar para a pseudo-democracia sem largar as bocas. No final da entrevista reproduzida ele se trai, mostrando o enganador que é a todos quantos entendem a horrorosa situação do povo brasileiro. Para ver como é lamentável, basta passar de ônibus ou de carro pelas periferias das grandes cidades brasileiras, e também verificar o fracasso do modelo entreguista, de dependência financeira e tecnológica, que faz com que empresas brasileiras não tenham posição importante em qualquer mercado de bens intensivos de tecnologia e o País esteja voltando à situação colonial, exportador de produtos primários, além de desnacionalizada.
É com este trecho que eu extraí do longo blablablá envado que Delfim mais se revela (feliz com a gordura física e pecuniária que acumulou:
“A eleição do Lula foi a consolidação da democracia no Brasil. Na primeira eleição, quando eu disse que votaria nele, causei uma amolação enorme entre a minha gente. Porque era preciso esse teste. O Lula se revelou um grande presidente. O Fernando Henrique também. E até o Collor teve uma contribuição importante, com a questão da abertura do mercado.”

Não bastou elogiar Lula. Também procurou cuspir na alma dos milhões de brasileiros empobrecidos por dois dos maiores entreguistas mais repulsivos de que o Brasil já foi vítima.

Para ilustrar o que digo da situação do Brasil, transcrevo comentário que enviei ontem a outros correspondentes:

 Caro Norton,

Seus comentários são mais interessantes que a matéria enviada, muito voltada para o marketing dos carros de luxo importados pela China.

O que você diz é muito informativo e sua avaliação bem fundada. Realmente, a situação do Brasil na indústria automotora é das mais tristes e ridículas ao mesmo tempo. O pato é pago pelos brasileiros, que gastam praticamente o dobro do que deveriam, e isso não decorre de impostos mais altos que em outros países.

Os atuais governantes, como os que os têm precedido, favorecem escandalosamente as montadoras estrangeiras, especialistas em mandar ganhos para o exterior obtidos no mercado brasileiro, superfaturando importações de insumos usados na produção dos veículos locais e subfaturando  exportações, além de pagar às suas matrizes por serviços superfaturados e até fictícios.

Há muito tempo as empresas transnacionais e os bancos tornaram-se a classe dominante no Brasil, e as responsabilidades históricas por essa lastimável situação devem ser atribuídas, em primeiro lugar, aos mentores da conspiração organizada por serviços secretos estrangeiros que culminou com a queda de Getúlio Vargas, em agosto de 1954.

Cabe lembrar que cerca de 20 dias após esse golpe, foi baixada a Instrução da SUMOC nº 113, que permitiu às montadoras estrangeiras trazer equipamentos e suas tecnologias, igualmente ultrapassadas e amortizadas, registrando tudo como investimento em moeda naquela Superintendência, substituída após 1964, pelo Banco Central. Daí, até hoje, não se cessou de agregar novos subsídios e favorecimentos em favor da falsa indústria nacional.

O segundo, e não menos importante, responsável histórico pela liquidação da autêntica indústria nacional é Juscelino Kubitschek,  o grande objeto do culto da personalidade da pseudo-democracia brasileira. Esse criou grupos executivos para atrair as indústrias automobilística e naval estrangeiras, com mais pacotes de vantagens, além de procedimentos administrativos acelerados para sua instalação no Brasil.

Outro grande impulso à desnacionalização geral do País se deu com o golpe de 1964, com  Roberto Campos na posição de czar da economia. Ele aplicou políticas de restrições brutais ao crédito e a investimentos públicos, desenhadas para acabar com a nossa verdadeira indústria nos setores em que ela ainda sobrevivia.

Notável é que durante a preparação do golpe, com Golbery articulando o IPES e o IBAD, apoios significativos ao financiamento dessas instituições provieram da maioria dos conselheiros da FIESP. Estávamos no período 1961-1963. Veja-se, pois, há quanto tempo a FIESP, considerada baluarte da indústria nacional, cooperou para a destruição de dita indústria.

Nada disso pode ser validado com a desculpa de que os brasileiros não tenham competência para ter sua indústria, como hoje têm os chineses, os coreanos e outros, apesar da situação incomparavelmente mais atrasada de que partiram.  E têm suas marcas em muitíssimas áreas-chave, inclusive os componentes básicos da informática, hoje essenciais para o conjunto da indústria.

Claro que, se brasileiros ergueram uma empresa como a EMBRAER, uma das poucas empresas fabricantes, em todo mundo, com destaque no mercado,  até hoje, não teria havido dificuldade alguma em fazer prosperar empresas nacionais produtores de veículos e em outros setores. Elas já despontavam, sem falar na indústria de autopeças, então quase toda nacional, na época em que os entreguistas de 1954 e JK, logo em seguida, fizeram o que fizeram, e ainda apresentaram a estúpida “justificação” de que “não havia que reinventar a roda”.

Abraços,

Adriano Benayon

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